“Fala pessoal,
O que pode arruinar uma
vida? A pergunta fica mais dramática se feita de outro jeito: o que pode
arruinar minha vida?
Lá vai outra das minhas
histórias. Estava indo para a ilha do bananal de carro. Ir de carro não é pra
qualquer carro. Tem que ser um jipe Toyota. Nada de chique. Um jipe duro e
desconfortável, mas extremamente robusto. Agüenta de tudo, passa por tudo,
supera tudo, vence tudo, derruba tudo e ….
Tudo ia bem. Saímos de
Gurupi por volta das 11 da manhã. Tínhamos que chegar a margem do rio antes das
2 da tarde para encontrar o índio que seria nosso guia. A pouco mais de 30 km
de Gurupi o carro começou a engasgar. Perdeu completamente a força. Fomos
levando o carro para o acostamento da rodovia 153. O carro parou e lá fomos nós
empurrar o jipe. Empurrar um jipe não é como empurrar um fusca. Éramos dois
empurrando baixo um sol escaldante com carretas passando a toda velocidade ao
nosso lado que jogavam pedrinhas pequenas nas nossas pernas. Chato demais.
Depois de algum tempo
conseguimos encontrar um mecânico. Ele deu uma arrumada e conseguimos ligar o
carro e levá-lo a uma mecânica. Pensei com meus botões: foi o motor que fundiu,
foi o radiador que estourou, foi o carburador que deu pau (nem sei se isso tem
carburador!!!), foi a repimboca da parafuseta, foi à cebolinha, a Magali, o
cascão, sei lá! Tem que ser algo sério demais. Esse jipe é muito forte. Pra
para um jipe desse só um furacão!
O mecânico olhou,
olhou, olhou. Mexeu aqui e ali. Esticou e acelerou. Desligou e pediu pra ligar
de novo. Voltou a apertar e apertar e finalmente disse: já sei o que é!!!
Eureca!!!
Tirou um vidrinho que
tinha um liquido dentro. Soltou um parafuso e tirou uma borrachinha do tamanho
de uma moeda de 50 centavos. A borrachinha estava gasta, muito gasta mesmo.
Havia uma deformação nela.
Com a borrachinha na
mão ele disse: este é o problema. Sinceramente não acreditei. Uma borrachinha?
Por causa de uma borrachinha um monstro de um jipe parou? Nem um rio, nem um
areião, nem um lamaçal, nem a falta de uma pista para esse jipe e uma
borrachinha sem vergonha o parou??
Assim é a vida. O que
mais desgraça uma vida são detalhes. Coisinhas pequenas que às vezes nunca
damos importância. Hábitos ruins ou pecados. Temperamentos ou atitudes. Coisas
aparentemente simples que acabam destruindo uma vida.
Tenho descoberto que me
preocupo demais com as coisas grande demais e deixo as coisas pequenas de lado.
Acontece que muitas vezes essas “coisinhas” nos colocam em problemas. E que
problema!
Sabe, aprendi uma
lição. Aprendi não, relembrei. Detalhes são importantes. Um muito obrigado, um
por favor. Um sorriso ou uma atenção a mais a alguém. Coisas pequenas, muitas
vezes sem importância podem mudar muita coisa.
Tenho tentado dar mais
importância a isso. Tentar falar a verdade sempre, cuidar com o que falo,
brincar com minha filha, abraçar alguém. Parece pequeno, parece sem
importância, mas se não der atenção isso pode me destruir.
Sempre é hora de olhar
para o coração e tentar reavaliar meus conceitos de importância. Não é fácil,
mas é importante.
Faça isso. Trocamos a
borrachinha por outra nova. O carro funcionou. Ilha do bananal, lá vamos nós!
Ah, só por acaso comprei uma borrachinha a mais. Só por acaso… “
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